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27 de Dezembro de 2012 às 00:01

A crise das economias emergentes da Zona Euro

A maioria das instituições económicas actuais, do dinheiro à banca, evoluiu ao longo dos anos - as consequências não intencionais das decisões de milhões de indivíduos. Por outro lado, a Zona Euro destaca-se por ser uma criação deliberada. É, sem dúvida, a segunda maior estrutura económica deliberadamente planeada do mundo, depois do Comunismo.

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A Zona Euro é uma experiência marcante, uma verdadeira vanguarda do progresso global. Com o ano de 2012 a chegar ao fim, ela está em apuros, e todos os esforços devem ser feitos para a nutrir e fortalecer.

No segundo semestre de 2011, era evidente que as economias emergentes, que tinham resistido à crise financeira de 2008 moderadamente bem, estavam a declinar à medida que a crise da Zona Euro se aprofundava. O crescimento desacelerou acentuadamente no Brasil, Índia, China e outros países.

Os bancos centrais actuaram como emprestadores de última instância, o que evitou uma crise ainda maior. Em Dezembro de 2011 e Fevereiro de 2012, o Banco Central Europeu anunciou a operação de refinanciamento de longo prazo (LTRO), através da qual os bancos europeus se financiaram em cerca de um bilião de euros (1,3 biliões de dólares) em duas tranches. Depois, em Julho, chegou a famosa garantia do presidente do BCE, Mario Draghi, de fazer "o que for necessário" para salvar o euro. A Reserva Federal dos Estados Unidos injectou liquidez, assim como outros bancos centrais dos países avançados.

Houve um suspiro colectivo de alívio, os mercados financeiros estabilizaram, e a produção industrial recuperou. Agora, a questão na mente de todos é se esta calma pós-tempestade vai durar, permitindo que a economia global recupere de forma consistente.

Em nenhum lugar essa questão parece mais importante do que nas economias emergentes e em desenvolvimento, que estão fora do principal teatro da crise, mas mais precariamente posicionadas do que os países avançados. Muitos destes países só recentemente começaram a crescer de forma acelerada e, com vastos reservatórios de pessoas pobres, o crescimento económico tem uma urgência moral que não existe nos países ricos.

A economia global será palco de uma recuperação sustentada? Examinando o passado tão cuidadosamente quanto consigo, e ciente dos riscos de augúrio, a minha resposta tem de ser não. Até 2015, a perspectiva é sombria para a Europa e, por extensão, para as economias emergentes e em desenvolvimento. A injecção de liquidez que ocorreu no último ano foi a política correcta. Mas só comprou tempo, não resolveu o problema. E o tempo está a esgotar-se.

Infelizmente, a maioria das pessoas tem uma propensão instintiva para só olhar para os problemas quando eles já estão muito próximos. O precipício orçamental dos Estados Unidos, por exemplo, demorou a chegar, mas só agora é que estamos a lutar para o evitar. Assim, devemos ter consciência de que há um outro problema a vir na nossa direção, que pode ser chamado (para dar-lhe a ressonância de uma tempestade que se aproxima) Edward – "O muro da dívida europeia e o prazo de reembolso" ("European Debt Wall and Repayment Deadline").

O dinheiro do LTRO que os bancos receberam em condições facilitadas, é preciso lembrar, tomou a forma de empréstimos a três anos, o que implica um prazo para o pagamento da dívida em Dezembro de 2014 e Fevereiro de 2015. Se a Europa conseguir fazer grandes reformas fiscais e bancárias e puser a sua economia em ordem, o Edward vai perder força. Se não, a crise vai persistir, e a Europa será abalada quando o Edward se instalar no final de 2014.

Onde é que isso deixa os países em desenvolvimento? A Europa e os Estados Unidos são as duas maiores potências económicas do mundo. Asua desaceleração vai ter um impacto negativo em todas as economias emergentes. Além disso, os Estados Unidos e a Europa já usaram grandes doses de estímulo fiscal, que compartilham uma semelhança estranha aos antibióticos. Administrados durante um curto período, podem ser um poderoso antídoto mas, usados repetidamente por um período longo de tempo, os efeitos colaterais podem superar os benefícios.

Consideremos o caso da Índia. Desde 2009, a Índia tem vindo a expandir o seu défice como uma medida deliberada para combater a sua crise económica. Porque a expansão orçamental seguida de vários anos de contenção, foi muito eficaz no estímulo da procura e no crescimento da produção. Mas agora, a possibilidade de expansão é limitada. Ao contrário dos países avançados, a maioria das economias emergentes estão a exibir as pressões inflaccionárias, o que poderá ser agravado por uma nova ronda de estímulos. Portanto, a situação de curto prazo continua precária.

No entanto, para as economias emergentes, no médio e longo prazo as perspectivas são brilhantes. Os países que estão a economizar uma quantidade substancial, a investir em capital humano, e a fornecer um mínimo de boa governação devem retomar seu crescimento anterior rapidamente.

A Índia, por exemplo, está a poupar e a investir mais de 30% do seu PIB, dedicando uma parte significativa desses recursos a infra-estruturas. A sua capacidade empresarial está a expandir-se. Nos últimos anos, o investimento externo directo da Índia na Grã-Bretanha excedeu o investimento directo da própria Grã-Bretanha. Assim, uma vez superada a crise, o crescimento anual deve recuperar a sua taxa anterior de mais de 8%.

Os investidores parecem estar a assumir esta visão. Têm sido pouco beneficiados quando se trata de investimentos de curto prazo em acções. Mas, quando se trata de investimento directo de longo prazo, chegaram a um recorde de 43,8 mil milhões de dólares para a Índia em 2011-2012. Para além da crise actual, a perspectiva parece ser semelhante em outras grandes economias emergentes, incluindo o Brasil, China e Indonésia.

Acalmar a tensão de curto prazo e preparar o caminho para o crescimento dos países em desenvolvimento ainda vai exigir um programa claro e credível para as economias de altos rendimentos, especialmente na Europa, regressarem a uma situação orçamental sustentável. Pela frente está uma estrada esburacada, que exige uma navegação cuidadosa e a implementação de uma política ousada.

Tradução: Rita Faria

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